Chego em casa
Depois de um dia turbulento
Com mil pensamentos
Cheia de cansaço e pouco caso
E de repente
Escuto uma voz fina e inocente
Chamando meu nome
Me roubando um sorriso
Me envolvendo de um amor sincero
As névoas negras do dia longo e frio
Abandonam completamente meu espirito
Me agacho e abraço aquele corpinho indefeso
Envolvo no mais gostoso calor
Sinto aqueles bracinhos pequenos
Comprimindo meu pescoço
E depois desse breve abraço meigo
Sinto as mãozinhas acariciarem meu rosto
Tirar da minha testa todos os meus desgostos
E suavemente arrumando os meus cabelos
Dizendo palavras incompreendidas
Trocando sílabas
Falando numa velocidade tão linda
Com aqueles dentes pequenos
Eu só querendo parar o tempo
E ficar ouvindo essa voz tão fina
Que me aquece por inteiro
Me leva há um mundo de flores perfumadas
De jardins encantados
De dias sempre ensolarados
Tudo deixa de ser sem cor
O coração bate feliz no peito
E os olhos grandes e azuis da minha pequena Patrícia
Me toma de um sossego brando e verdadeiro
Assim enfeitiçada por aquele pedacinho de gente
Aperto mais uma vez contra o meu ser
Lhe beijando a face...
Levo-a para dentro
E fico sentada ouvindo suas histórinhas
Do seu dia de brincadeiras no parque
Do dia que ficou de noite de novo
Do bicho-papão no canal de TV
Do brinquedo barulhento que parou de funcionar
Da Barbie que sumiu
Do tênis que ficou preso no escorregador
E de inúmeras coisinhas
Que eu não entendia
Mas fiquei ali...
Ouvindo cada pedacinho contado
Cada palavra sem sentido
Até o sono lentamente lhe fazer a boca abrir
fechar suas pálpebras
Fazendo-a escorregar para o meu colo
Aconchegando sua pureza em mim
Faço um último carinho
Antes de colocá-la no berço
Sorrio
Pela graça recebida
Por minha magnifica família
Respiro fundo
Espanto o mundo
E esqueço sempre ...
Todos os defeitos e fracassos da minha vida...